Atrás do click
Click ou não click, eis a questão. Com a evolução da tecnologia a fotografia tornou-se banal, atualmente poucas são as pessoas que dizem que não gostam de fotografia. Esse gosto veio quase certamente das redes sociais; fomos adaptando e melhorando o conteúdo que lá partilhamos até chegar aonde estamos. Agora uma foto não pode ser publicada sem ter o enquadramento e a edição perfeita. Eu própria dou por mim a pensar se vale a pena publicar ou não, tem de ter qualidade que justifique. Fora esta luta mental ridícula do vai-não-vai (isto para pessoas que usam as redes sociais de forma pessoal; se fores fotógrafo ou trabalhas em marketing etc, isto não é para ti), existe agora a praga das ‘stories’. Não há nada que se faça que não tenha de ser partilhado numa ‘story’. Deixou-se de estar presente para incluir naquele momento toda a gente que nos segue, que provavelmente mais de metade nem quer saber. As pessoas não notam que matam completamente a felicidade ou abertura para a felicidade se estão a colocar uma barreira física (e não só) entre elas e a realidade: o telemóvel. Não é situação única na minha vida estar numa saída/convívio, estar tudo a rir ou num momento recordável, e qual é o primeiro instinto? Pegar no telemóvel e gravar/fotografar. “As pessoas têm de ver isto; olha a minha vida tão engraçada que é e a vossa não; quem vos dera estar aqui”, etc. Não sei o que motiva este vício compulsivo, mas está a matar a felicidade genuína. Ninguém ri com um telemóvel na mão, até porque treme a imagem. Concertos gravados que nunca serão revistos. E para quê? Likes? Reconhecimento público de como vocês é que sabem viver ou sei lá. Não sei. Mas devíamos (eu incluída) de nos questionarmos o motivo de publicarmos o que publicamos, é para quê? A maioria ficara talvez um pouco triste com a realização dos seus atos, eu fiquei.
Click ou não click, eis a questão. A questão é que memórias são feitas e memórias são guardadas. Contra mim falo, sou amante de fotografia, não tenho uma máquina, tenho cinco (são géneros diferentes, não sou doida, juro) e estou à procura de mais uma (depois páro, acho). O tempo passa, a memória prega-nos partidas e como é que se pode rever a nossa vida? Fotos e vídeos. E eis que surge o meu dilema: guardo as memórias na minha mente e deixo-me ir e arrependo-me eventualmente de não ter provas do que aqui se passou; e, na minha velhice, fico apenas com fotografias sem emoção/história nenhuma, uma pose forçada e um sorriso nada natural? Ou, como costumo fazer em saídas, levo uma máquina e fotografo os momentos que acho que têm potencial de serem revistos, mas ao fazer isso separo-me da realidade e da ação, estando portanto a ser espectadora e não pessoa que está a viver realmente o momento.
Acho que após 25 anos de vida descobri o segredo: equilíbrio. Se o momento que está a acontecer me envolve diretamente, aí de mim colocar um muro à minha frente; alguém que fotografe/grave por mim. Se não, lá estarei a agrupar memórias, mas de forma concisa, deixando abertura para também eu fazer parte dessa história. Num concerto não gasto mais de 15 segundos num vídeo, e fotos muito possivelmente será uma de rolo/polaroid para o meu álbum físico. De resto, estarei aos pulos e a cantar como bem devo. Fora isto, faço um esforço muito grande (agora menos, já me é natural) para não mexer no telemóvel em férias/saídas/convívios. Se for uma mensagem, uma chamada, claro que sim, se bem que há motivos e motivos para se atender/começar uma conversa. O ato de estar no telemóvel cria em nós um afastamento da realidade, incluindo das pessoas que estão à nossa volta. Já ouvi, “mas não estamos a fazer nada” para desculpar o vício, parece que se tornou raríssimo estar presente apenas; aliás, não é possível começar uma conversa ou mudar esse “aborrecimento” se o que vemos à nossa frente é um telemóvel. Deixo portanto o desafio de fazerem um detox digital quando saem de casa. Eu no verão desinstalo todas as aplicações sociais, por exemplo. Guardo as fotografias e as que acho que merecem atenção publico mais tarde. Ser publicado agora ou um mês depois, pouco muda na vida de quem vê, já na tua…
“Os dias bons não estão dispostos nas montras das redes sociais, porque os dias bons nem sequer nos dão tempo para os queremos justificar a ninguém. (…) fazer um vídeo feliz não é o mesmo do que ter um dia feliz.”
Bruno Nogueira, Aqui dentro faz muito barulho, A vida dos outros, 2023
Entretanto após reler deparei-me com um detalhe talvez muito importante, no “prós” ao click de facto confirmei a importância ( para mim pelo menos) de guardar memórias/momentos, mas onde é que isso tem relação direta a expor isso? Todos temos métodos de armazenamento de fotos/vídeos e se não tivermos rapidamente se compra um disco externo etc, organiza-se por datas e está feito. A questão da partilha continua na minha mente sem resposta então, de onde vem esta necessidade? Ainda estou dentro deste esquema e não me tinha apercebido. De há uns anos para trás tornei o meu perfil privado, menos mal, eu partilhava com o mundo a minha cara/corpo/vida com quem nem conhecia, não vos parece estranho? Agora ia para a rua gritar ontem fui á praia X vejam. Realisticamente ninguém se sente seguro a expor a sua vida a um estranho certo? É desconfortável, é perigoso até, então vocês partilham a vossa casa, quando estão fora dela, porque dizem ao mundo que foram de férias, e onde, e até o hotel se for preciso, vocês têm noção que podem ser roubados, certo? Só falta dar as chaves de casa, mas até isso fazem! mal compram casa, gente, uma chave só com o seu aspeto é fácil criar uma cópia, parem com isso! Recapitulando, todos nos sentimos constrangidos em expor a nossa vida a estranhos, na vida real, agora ao mundo inteiro virtualmente vale tudo? Mas ninguém está a ver o que eu estou a ver, a loucura que isto é? Eu portanto restringi as minhas redes sociais visuais, mas mesmo assim, de 200 seguidores que seja, tens assim tanta afinidade com essa gente toda? conheces essa gente toda? falas com essa gente toda? Tou a dizer onde vou, com quem estou, os meus pensamentos e estados de espirito a quem nada me diz e se for preciso até ficam felizes por estarem “melhor” que eu. Tenho de refletir.
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